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Descrição

Símbolo da formação do sargento do Exército Brasileiro, a QUADERNA possui um simbolismo que por si só a torna representação de um ideal e de vários sonhos e sacrifícios dedicados ao Brasil pelos sargentos que a ostentam no peito. Para que possamos compreender os motivos que deram esse valor a ela, precisamos compreender sua origem e seu simbolismo histórico.

Quaderna ou caderna, do latim quaterni (de quatro em quatro (Priberam, n.d.)), é definida pelo dicionário heráldico, como sendo uma figura composta de quatro peças em forma de um quadrado simétrico. Caso estas peças sejam crescentes ela também pode ser chamada de lunel. Sendo assim, mesmo que, tradicionalmente, ela seja chamada de Quaderna, o correto seria o termo “Lunel”. (Heraldic Artists Ltd 1980)

História

A origem da Quaderna, que conhecemos como símbolo da formação das praças graduadas do Exército Brasileiro, possivelmente, se encontra nas Cruzadas, por volta dos anos 1000 e 1100. Nesse período, o território, que hoje pertence a Portugal, estava sob o poder dos mouros, que denominaram a região como Reino de Al-Andalus. Várias foram as tentativas de sua retomada das cidades e vilas pelos reinos ibéricos. Durante uma dessas tentativas, na batalha que ficou conhecida como Cerco dos Campos de Beja, o nobre Dom Egas Gomes de Sousa, primeiro a usar o apelido “Sousa”, que se julga provir da terra de Sousa, da qual foi um dos povoadores e, provavelmente, um dos 29 companheiros do lendário cavaleiro D. Gonçalo Mendes da Maia, o Lidador, tomou parte nessa batalha, na qual “o Lidador”, ferido de morte no encontro com Amoliamar, pediu-lhe que assumisse o comando, depois de sua morte, porque nele via todos os predicados para suceder-lhe, o que fez com imponderáveis façanhas e incrível valor, completando assim a vitória sobre os mouros. Por esse motivo, adotou, como armas, quatro luas crescentes, correspondentes às bandeiras daquele rei mouro. Além de receber o epíteto de “Bastões de Aragão”. Sendo a lua crescente um símbolo mulçumano que simboliza a renovação, diversos reis daqueles povos utilizavam esse símbolo em seus estandartes. Representando a vitória cristã sobre os mouros, a quaderna de crescentes representa a cristianização daquele símbolo, as crescentes em forma de cruz. (Guimarães 1942).

Daquele momento em diante, a quaderna passou a ser reconhecida, na heráldica europeia, como um símbolo daqueles que foram honrados por seus soberanos ou daqueles que têm esperança de uma maior glória. Já a cor prata representa paz e sinceridade. Devido a essa simbologia, sua composição de brasões e escudos de armas, hoje, podem ser encontradas em diversas famílias, além dos Sousas e de diversas cidades e vilas.

No Exército Brasileiro

No Brasil, seu uso foi revivido entre os anos de 1931 e 1946, pelo Exército Brasileiro quando ele passou a fazer uso da quaderna como peça de uniforme em substituição à elipse cheia, abaixo da primeira divisa, que simbolizava que seu portador era um militar possuidor do Curso de Comandante de Pelotão ou Seção. (Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil 1931).

Segundo o historiador militar, Cel Naccer, especialista em História dos Uniformes Militares, tal escolha foi devido a que ela também representava a vista de cima de quatro colunas estilizadas. Colunas essas que significam os quatro pilares que representam os comandantes daquelas frações: HIERARQUIA, DISCIPLINA, CAMARADAGEM E INICIATIVA. (Fonte desconhecida).

Na ESA

Com a criação da ESA, em 1945, veio já em 1946 a primeira ligação entre a quaderna e a formação de sargentos, quando o Ministro da Guerra aprovou a insígnia indicativa de comando da Escola de Sargentos das Armas e dos órgãos a ela subordinados, sendo esta última insígnia a primeira ligação de fato entre a quaderna e a formação de sargentos do Exército. (Ministério da Guerra 1946)

Provavelmente, após esse fato, foi criado o tradicional distintivo da Escola de Sargentos das Armas que, já em 1949, o clássico escudo polônio da ESA, constava na Revista A E.S.A. (Escola de Sargentos das Armas - ESA 1949)

Já estando a ESA em terras tricordianas, o Presidente da República criou o ‘’Estandarte-Distintivo’’ para a Escola de Sargentos das Armas, de autoria de Alberto Lima e Luiz Gomes Loureiro, este último, que em um publicação na Revista A E.S.A de 1951, descrevendo o simbolismo do referido estandarte, definiu a quaderna agora como sendo: “a quaderna da Escola, símbolo da coesão das quatro Armas, sobre fundo esmaltado das cores heráldicas que perlustram os brasões de Osório e Andrade Neves, os heroicos feitos nobres no campo da honra.” (Loureiro 1951)

Em 1951, o Regulamento de Uniformes de Pessoal do Exército, novamente contribui com a evolução desse símbolo, uma vez que reafirma que todo militar possuidor do curso de comandante de pelotão e seção utilizaria a mesma, diferenciando somente os alunos dos cursos de formação de sargentos que, divididos em dois períodos, cada um deveria utilizar, além do brasão da sua escola de formação, no braço oposto, o distintivo do seu período, sendo: 1º período — uma tira em pala bordada em linha cinza claro e aplicada ao terço superior de ambas as mangas; e 2º período de Curso de Aperfeiçoamento — uma estrela prateada no terço superior de ambas as mangas. Já em 1958, a quaderna do curso de comandante de pelotão ou seção recebe uma pequena alteração, ela passa a circunscrever o distintivo da qualificação militar geral. (Presidência da República do Brasil 1951)

Em 1967, a quaderna prateada com fundo azul e vermelho passou a representar o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos que, até aquele momento, ocorria concomitantemente com o curso de formação, nas instalações da ESA. Assim sendo, este foi o momento em que, definitivamente, a quaderna passou a representar a formação do sargento, uma vez que, até aqui, ela tinha uma forte ligação com a Escola e não com a formação do sargento. (Ministro do Estado do Exército 1967)

Em 1986, este mesmo motivo sem a estrela passou a ser a representação nos uniformes do curso de formação de sargentos. Momento esse que oficializou o vínculo da quaderna com a formação do 3º sargento. (Fonte desconhecida)

Criada a formação de sargentos temporários, logo em 1988, foi aprovada a quaderna para curso de formação de sargentos temporários e para o curso de formação de cabos, a primeira com fundo prateado e a segunda vazada. Reafirmando, assim, a representatividade da mesma como símbolo da formação dos graduados. (Ministro do Exército 1988)

O General de Exército João Camilo Pires de Campos, em suas palavras durante a Diplomação do Curso de Formação de Sargentos das Armas, na ESA, em 2017, Uultimou a descrição heráldica da quaderna, fazendo a ligação com a célebre frase do General de Divisão Herman Bergqvist, tema da aula inaugural por ele proferida ao início do CFS, em 19 de fevereiro de 1979. (Escola de Sargentos das Armas 2017)

“Representa o Curso de Formação de Sargentos com as cores do Exército do Brasil, composto por 4 meias luas crescentes, entrelaçadas por elos, que faz lembrar que o sargento é o elo entre a tropa e o comando.” - Gen Ex Campos, 2017.

Seu atual layout e uso permanecem inalterados desde essa data, mesmo após a aprovação do Sabre Sgt Max Wolf Filho e o 1º Uniforme do Curso de Formação e Graduação de Sargentos, o qual relembra o uniforme utilizado pelos alunos da Escola de Sargentos, possui em seu quepe a quaderna que originalmente não existia, já que, segundo o Regulamento da Escola de Sargentos, seria somente um monograma com as letras “ES” (Vice-Presidente do Brasil 1894), mas tal é a tradição desse símbolo com a Formação de Sargentos, que o mesmo foi incorporado ao atual quepe do referido uniforme. (Comandante do Exército 2017)

Simbologia Heráldica

Resumidamente então, concluímos que a heráldica/história da quaderna da formação de sargentos possui a seguinte simbologia:

Crescente: 1º Momento: Renovação. 2º Momento: Vitória sobre os mouras na cidade de Beja.

Quaderna de crescentes: 1º Momento: honrados por seus soberanos ou daqueles que têm esperança de uma maior glória. 2º Momento: vista de cima de 4 pilares estilizados que representam os valores dos comandantes de pelotão ou seção: HIERARQUIA, DISCIPLINA, CAMARADAGEM E INICIATIVA. 3º Momento: as quatro armas: Infantaria, Cavalaria, Artilharia e Engenharia.

Prata: simboliza a paz, amizade, trabalho, prosperidade, pureza e religiosidade

Vermelho: 1º Momento: Nobreza, valentia, bravura, ousadia, esforço, valor, intrepidez, magnanimidade, generosidade, honra, furor e vitória; 2º Momento: cor da Família Osório. 3º Momento: Cor heráldica do Exército Brasileiro.

Azul: 1º Momento: Justiça, nobreza, perseverança, vigilância, zelo, lealdade, firmeza incorruptível, glória, virtude, dignidade, constância e fama. 2º Momento: cor da Família Neves. 3º Momento: Cor heráldica do Exército Brasileiro.

Estrela: 1º Momento: A estrela simboliza honra, conquista e esperança. 2º Momento: 2º Período ou aperfeiçoamento. 3º Momento: ensino (Quaderna do curso) ou estabelecimento de ensino Estandarte/Distintivo de Escolas de Formação).

Pala: 1º Momento: Força militar. 2º Momento: 1º Período, Formação de Sargentos.

Elos: 1º Momento: que faz lembrar que o sargento é o elo entre a tropa e o comando

Conclusão

A tradição de seu uso que, como vimos, foi iniciada há mais de 900 anos e, mesmo que hoje seu desenho tenha recebido poucas alterações, foi por felizes coincidências relacionadas ao número quatro, que acabou recebendo toda uma significação para os militares brasileiros, principalmente, aqueles formados nas Escolas de Formação de Sargentos, que ao passarem utilizá-la ela em seu peito, mesmo que não saibam sua origem, sabem que é a representação de horas a fio de esforço físico e mental, o reconhecimento da Pátria, por essas horas de dedicação e sacrifício.

Referências

Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil. 1931. Decreto nº 20.754, de 4 de Dezembro de 1931, Aprova o plano de uniformes dos oficiais e praças do Exército ativo e dá outras providências. N.p.: Diário Oficial da União.

Comandante do Exército. 2017. “Portaria nº1600-Cmt Ex.” In Inclui dispositivos no Regulamento de Uniforme do Exército (RUE), 45. Brasília, DF: Secretaria-Geral do Exército.

Escola de Sargentos das Armas. 2017. “Solenidade de Diplomação do CFS/2017 - ESA.” Youtube. Vídeo. https://www.youtube.com/watch?v=FwaBISppy_E&t=5393s.

Escola de Sargentos das Armas - ESA. 1949. Revista a E.S.A nº 1 de 1949, Quantos somos e de onde viemos. 1ª Edição ed. Rio de Janeiro, RJ: n.p.

Guimarães, Alexandre S. 1942. “Traços Biográficos de Martin Antonio de Sousa e seus descendentes.” In Revista Genealógica Brasileira nº 5 Ano III, 85. N.p.: Instituto Genealógico Brasileiro.

Heraldic Artists Ltd. 1980. The Symbols of Heraldry Explained. N.p.: Heraldic Artists Limited.

Loureiro, Luis G. 1951. “O Significado do Estandarte da Escola de Sargentos das Armas.” In A E.S.A., 4. III ed. Três Corações, MG: n.p.

Ministério da Guerra. 1946. “Aviso nº 367, de 21 de março de 1946.” In Boletim do Exército nº 13, 893. 30th ed. Rio de Janeiro, RJ: Secretaria-Geral do Exército.

Ministro do Estado do Exército. 1967. “2. Insígnias e Distintivos.” In Regulamento de Uniformes do Pessoal do Exército, 6. Rio de Janeiro, RJ: Secretaria-Geral do Exército.

Ministro do Exército. 1988. “Portaria nº 1000, do Ministro do Exército.” In Boletim do Exército nº 42, 18. Brasília, DF: Secretaria-Geral do Exército.

Presidência da República do Brasil. 1951. “Decreto nº 30.163.” In iário Oficial da União - Seção 1, 18444. Vol. Seção 1. Rio de Janeiro, Brasil: Imprensa Nacional.

Priberam. n.d. “CADERNA.” Dicionário Priberam. Accessed March 24, 2022. https://dicionario.priberam.org/CADERNA.

Vice-Presidente do Brasil. 1894. “Decreto nº 1729-A.” In Plano para os Uniformes dos Officiaes Effectivos, Reformados e Praças do Exercito, Alumnos das Escolas Militares, Collegio Militar, Invalidos da Patria e Escola de Sargentos, 528. Rio de Janeiro, RJ: Imprensa Nacional.